"Toalha nova não enxuga
Edredom novo não esquenta
Meia nova tem cheiro de luva
Mas na vida aprendi que com o suor tudo isso muda"
(poesia Suor, de Carlos Drummond de Andrade).
Meu mergulho nessa poesia foi fatal, acho que quanto menos eu escrever aqui mais Drummond será significativo, tenho a sensação de estar intrometendo em seu devaneio. Quanto mais eu posto alguma coisa aqui mais eu me vejo escrevendo sobre poesia, ou a partir de um poema. Tenho vivido em um tempo que eles me falam muito, ebuli em mim, cada palavra me parece armada, munida para me atingir até as entranhas.
Me seguro para não pensar, mais não tenho sucesso, sempre penso o mundo tem tão pouca poesia na tv, nada de poesia no que chamam de realidade (BBB), nos outdoors, na minha e na sua boca. Antes eu mesmo dizia que algo utópico, seria poético, hoje eu chego a pensar que a poesia me da mais acesso a realidade do que ver o Big Brother, na poesia vejo mais noticias essenciais sobre o ser humano do que no Jornal Nacional, acho que vejo melhor meus próprios sentimentos na poesia do que olhando para mim mesma.
A cada instante novidades sobre os participantes do BBB, fizeram xixi quentinho, espirraram, fizeram e aconteceram, show da realidade?
Xii, show mesmo quando me deparo com Adelia Prado, com Drummond, com Cicilia Meireles trazendo a realidade ato, de coisas que sinto, penso, e muito pouco consigo dizer sobre, realidades profundas e outras tão razas que nem percebo quando olho.
Deixo novamente pra Drummond o que não sei dizer das realidades que todo mundo vê e não olha:
As mulheres apressadas não conversam.
Apenas exibem os dotes.
Os homens de terno mal se cumprimentam
e já começam a falar de números.
Os mais jovens querem aproveitar intensamente a vida
mas se esquecem de tirar de fone de ouvido.
Esta cidade é um açougue.
Será que sou carne nobre ou carne moída?
Nesse mundo de tanta (in)realidade é difícil saber o que é nobre o que é moído?