domingo, 22 de março de 2015

Matrimonio e santidade

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Me lembro bem de quando era adolescente, achava que para ser santo tinha que ser padre ou freira. Portanto casamento seria para quem não tem a pretensão de querer alcançar a santidade, fica um ar de quem deseja a santidade como alguém muito pretensioso. A santidade é colocada pela cultura atual como uma realidade tão distante de nós.

É só nos aproximarmos um pouco mais, que veremos que não é bem assim. O casamento tem dentro de si todos os fatores importantes para produzir um santo: renuncia, entrega, obração da própria vida em favor do outro, sofrimento. E não é uma vocação de segunda categoria, mas sim uma grande oportunidade para viver o amor que santifica. Por muito tempo criou-se uma ideia errada da vocação ao matrimonio, como se esta fosse para quem não consegue viver o celibato, como se fosse um mal necessário para a preservação da especie. Hoje com alegria, pos Concilio Vaticano II, como o Espírito Santo mesmo prometeu que "nós ensinaria todas as coisas" a luz da sua graça que aos poucos se manifesta por meio da nossa Mãe igreja a verdade revelada sobre a vocação original do ser humano a santidade. Como Deus teve paciência em esperar que o povo da antiga aliança entendesse os dez mandamentos, assim também a revelação vai se dando conforme a humanidade se abre a graça do Espírito Santo. Os dez mandamentos nunca mudaram, mas a compreensão que fazemos dele sim, a ordem de não pecar contra a castidade, não desejar a mulher do próximo, sempre esteve lá na lei, mas se olharmos a caminhada do povo de Deus, veremos o que a monogamia não era considerada um pecado. A partir daí já podemos sentir o que Jesus disse aos discípulos de Emaus: "como sois lerdos para crer" (Lc 24).

   Santidade não é somente para alguns separados, é a vocação de todo ser humano, mesmo que para isso leve um longo caminho de perseverança. Santidade e felicidade são amigas inseparáveis. Também as dificuldades nos santificam ao longo do caminho. Infelizmente muitas vezes temos uma concepção ilusória do que seja um santo. Não é muito raro encontrar pessoas que não veem os santos como gente como nós. Um exemplo lindo que temos são os pais de Santa Teresinha, que serão canonizados, um sinal de que um matrimonio quando vivido na graça santifica. Podemos pensar que estamos engatinhando, temos tanta coisa para superar nossos defeitos e fraquezas, mas não podemos usar isso como muleta. Um fato interessante é que costumamos narrar as maravilhas e milagres na vida do santos e poucas vez ou nenhuma olhamos que suas fraquezas de onde Deus plantou virtudes heroicas e estes regaram essas virtudes com profunda humildade, consciência de suas limitações e da grandeza de Deus. 

Observe bem a vida dos santos de sua devoção, ali está um pecador que não desistiu e acreditou que "onde abundou o pecado, superabundou a graça" (Rm 5). Um padre chamado João Mahana, narra historias interessantes sobre as fraqueza dos santos. Ele conta que Santo Inácio de Loyola fraturou a perna, logo se restabeleceu, mas ficou manco, com uma perna maior que a outra. Mandou quebrar a perna novamente para conseguir o seu jeito de andar correto. Lembrando que não havia muitas opções de anestesia em sua época. No entanto se você conhecer bem toda a sua trajetória vai ver que terminou sua vida com uma humildade heroica, fundou uma linda congregação. São Vicente por exemplo que sempre será para nós exemplo de amor aos pobres, nem sempre foi assim, quando era seminarista negava-se a receber o pai no seminário, para ocultar sua origem humilde, mas tarde fez questão de apresentar o pai diante de todos os nobres da corte mostrando como ele venceu sua fraqueza. 

Santa Teresinha tinha uma natureza individualista, vaidosa, e se tornou modelo de modéstia, autenticidade, que em nove anos de vida religiosa transbordou amor heroico. São Felipe de Néri não tinha limites em suas palhaçadas, um dia se aproveitando que os padres e seminaristas estavam na capela, despejou o tinteiro na pia de água benta, enquanto ao meio dia todos se benziam maquinalmente, cabisbaixos, concentrados mas na fome do que no gesto. Da para imaginar o que aconteceu no refeitório! Pois este mesmo se tornou um conselheiro espiritual, suave e austero como poucos. Conseguiu colocar toda essa peraltice a serviço do amor. 

São João Vianey era considerado com dificuldades intelectuais, Cura d'Ars para a surpresa de todos depois da sua morte descobriu-se que sua biblioteca tinha mais de trezentos volumes, todos lidos e anotados. Hoje já se sabe que ela estudava muito para fazer seus sermões. Percebe-se aí um esforço heroico e uma grande abertura que possibilitava o afloramento de dons sobrenatuais, como Paulo mesmo nos falava "Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens (...) Deus escolhe os fracos para confundir os fortes" (conf. I Cor 1, 25). Seria imensa a lista desde Santo Agostinho a Madre Teresa de Calcutá todo santo tem um empurrão a nos dar, nos motivando a acreditar que é possível vencer nossos espinhos com a graça de Deus. 

A busca pela santidade não quer dizer que nossa família não tem defeitos e dificuldades, pelo contrario, como vemos na vida dos santos a santidade é uma luta permanece até o ultimo minuto, mas erramos quando pensamos que nossas fraquezas são capazes de nos separar do Amor de Deus, é bem ao contrario. Quem luta até o fim não é um predestinado, mas sim um lutador. E essa é a lição de cada santo ou santa, casado ou solteiro, cada um com seu jeito único de nos apontar com sua vida: Que Deus é capaz de fazer qualquer tipo de pessoa um santo, basta que essa pessoa se abra a essa ação redentora. Como também é muito comum pessoas com grande pontencial sucumbirem em sua arrogância, achando se capazes de ser bom sozinho, como o jovem rico que Jesus encontrou, e mesmo com tudo para ser santo. Não foi capaz de se desapegar de si e do que julgava ter de tão valioso. 

 A luta é a nossa parte, a vitória vem de Deus! Talvez viver em família, seja um grande exemplo de luta, para perseverar. Na vida dos santos podemos ver que nenhum deles teve uma vitória fácil, pois isso iria comprometer o seu desenvolvimento interior, e é assim também como todo família que busca a santidade. Não precisamos esconder nossas fraquezas, ao contrario para perseverar é preciso saber bem do "barro em que somos feitos" e também nunca duvidar da misericórdia e do Amor de Deus que tudo pode transformar. 
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Paz e bem!
 
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