“Temos o triste privilégio – afirmam – e paradoxalmente a graça de ser testemunhas de que muitas das prisões de nosso continente são recintos inumanos, caracterizados pelo comércio de armas, drogas, amontoamentos, torturas, crime organizado e ausência de programas de humanização (cf. Aparecida, 427).”
Fez-me pensar, esse trecho do documento de Aparecida: Nessa realidade estão os nossos presídios, mais não sei se todos têm esse “privilégio” de saber como é a vida de um presidiário em nossa sociedade. Atualmente tenho trabalhado em uma casa da Comunidade Aliança de Misericórdia, Casa Filho Pródigo. Onde meninos menores de 18 anos cumprem suas penas em liberdade assistida, ou suas medidas sócio-educativas, devido a algum descumprimento da lei. No inicio do ano completa um ano que estou lá. Alfenas uma cidade do interior do sul de Minas, cheia de universitário, festas. A pouco tempo inalgurado na cidade o novo presídio. Os meninos que atendo relatam suas experiências lá dentro, o uso de drogas, a violência, a discriminação, e tudo que não produziria nada de bom no coração humano, nem mesmo em um animal.
Sempre me pego pensando sobre esse contexto, em um desses meus devaneios, tive em mãos o Mensagem de João Paulo II para o Jubileu nos Cárceres, nossa quanta sabedoria, abriu um horizonte de reflexão infinito. Uma dessas reflexões me trouxe até aqui para partilhar com você blogueiro.
“Ao pensar nesses irmãos e irmãs, quero antes de mais desejar-lhes que o Ressuscitado, que entrou no Cenáculo estando às portas fechadas, possa entrar em todas as prisões do mundo e ser acolhido nos corações, levando a todos a paz e a serenidade” (Iden).
Essas palavras de JP II levantam a possibilidade de um pentecoste no contexto das prisões, ele vai a fundo nesse horizonte.
“Jesus é um paciente companheiro de viagem, que sabe respeitar os tempos e os ritmos do coração humano, embora não se canse de encorajar cada um a caminhar para a meta da salvação” (Iden).
Cada escuta que faço me faz lembrar essa frase de JP II, e me ensina como caminhar com eles sem desrespeita seu tempo e suas possibilidades. Meninos que em suas escolhas vão escrevendo suas histórias de luta, sofrimento, vendo a sua dignidade se esvaziar por entre os dedos. Tendo como norte essa mensagem de JP II, podemos ver que o cárcere pode ter um cunho de reflexão, mas também “em vários casos, os problemas que cria parecem maiores que aqueles que procurávamos resolver” (Iden).
“Vexames infligidos, por vezes, aos presos por discriminação étnica, sociais, econômicas, sexuais, políticas e religiosas... torna-se um lugar de violência parecido com aqueles ambientes de onde, não raro, os reclusos provem. Isso inutiliza como é evidente, todo esforço educativo das medidas de detenção” (Iden).
Temos muito o que pensar apartir disso...